sexta-feira, 4 de novembro de 2011

30 anos daqui e dali

Este ano minha turma de faculdade, Fonoaudiologia da UNIFESP, comemora 30 anos de formatura.
Sou da "Turma Jurassic" da Fonoaudiologia (1981), que teve que rebolar bastante para seguir em frente e adquirir conhecimentos, pois a produção científica daquela época no Brasil era pouca. Hoje, somos referencia e nos orgulhamos de nossas fonoaudiólogas famosas- Dra Mara Behlau, Dra Silvia Pinho, Dra Irene Marchesan, Dra Zelita Guedes- só para citar algumas e não querendo desmerecer outras magníficas mestras.
Minha classe era pequena, não como as turmas de cento e poucas alunas que chegamos a ver recentemente, mas vinte e cinco entraram e trinta e cinco se formaram, pois abraçamos "as meninas" de outras turmas.
Estas que aqui estão são algumas das que ficaram em SP e que conseguiram se reunir num almoço muito gostoso, aproveitando o clima do Congresso de Fonoaudiologia.
Um detalhe interessante é que logo após formada, prestei concurso e ingressei para as fileiras da FAB, fazendo parte do Quadro Feminino de Oficiais da Aeronáutica(QFO), em 1982, sendo a primeira turma de oficiais a   ser incorporada à Força (desculpe o trocadilho, mas não fomos à força, mas voluntárias...).
Hoje já estou aposentada, depois de servir nos hospitais do Galeão e de Aeronáutica de São Paulo, como fonoaudióloga militar.
No ano que vem, essa minha turma QFO irá completar também seus 30 anos de incorporação e pretendemos reunir um grande grupo para comemorar o momento histórico.
Fizemos parte da História, pois fomos as primeiras oficiais efetivadas, que abriram caminho para as mulheres nas outras áreas, ainda que modestamente, mas já surgindo aos poucos as aviadoras militares e as intendentes.
Entramos para o meio militar ainda muito jovens, inexperientes, mas com muita vontade de lutar.
Hoje já somos cinquentonas e quase todas aposentadas (na reserva, como dizemos), mas todas bem, continuando a trabalhar em outras áreas ou se dedicando a outras causas.
E ouso dizer que a reserva faz muito bem à mulher militar, pois todas ficam com saúde, lúcidas, resolvidas.
Existe na FAB dois grupos masculinos da reserva: a Turma do Bagaço e a Turma da Sucata. Uma vez, um oficial muito velhinho me perguntou, muito ingenuamente, se eu agora que estava aposentada iria entrar para a "sucata". Eu me segurei para não rir e respondi, com todo o respeito, que mulher nenhuma quando se aposenta vira "sucata" ou "bagaço", muito pelo contrário, remoçamos!! A mulher é muito cobrada no meio militar, muito machista, tendo que trabalhar três vezes mais para parecer aos olhos masculinos que está no mesmo nível...e olhe lá!!!Além de suas atribuições como militar, também tem como profissional. Depois do expediente, cuida de sua casa e filhos/marido/parentes, estuda, e ainda acha tempo para ser mulher. E quando voltamos a ser "mulher mulher" nos damos conta de que precisamos manter nossa identidade. Não vestimos a farda como algo que, quando tirada, nos deixa sem rumo. Sabemos separar o "ser" do "estar".O posto não é o nome, faz parte de um momento, mas a vida é cheia de grandes momentos também, mesmo depois da FAB.
Por isso, quero curtir os 30 anos, daqui e dali, com a sensação do que vivi e do que estou vivendo.
E continuar a contar estas histórias pra quem quiser ouvir.

3 comentários:

Dulceh Franzen disse...

Oi Cybele
Amei conhecer um pouquinho mais sobre você,a carreira linda que você abraçou...Parabéns amiga!
Eu já era tua fã, agora sou muito mais do que antes.

Um sábado de paz e luz para você e sua família linda!!
Bjinhos

Renata disse...

Que bacana, nao conhecia essa sua história!!!

Falando em aeronáutica, sabe que outro dia vivi um fato curioso e que me deixou muito orgulhosa de ser mulher: entrei num avião gigante da AirFrance, Jumbo sei lá o quê...e quando nos preparativos para decolagem uma voz muito tênue de mullher começou a dizer alguma coisa em francês não liguei, pois achei que fosse uma das comissárias dando as boas vindas e etc...mas quando eu realmente apurei meus ouvidos e comecei a compreender, era a comandante daquele bicho colossau que falava conosco!Puxa como me senti feliz e realizada, além de totalmente segura por estar sob cuidados e atenção de uma mulher!

Parabéns pelas suas realizações!
Abraço,
Renata

Cybele Belschansky disse...

Nossa, gente! Obrigada pelo carinho!
Duh, eu adoro suas postagens!
Re, adoro viajar com você no blog!
Tenho a comentar que tive a honra de realizar exame audiométrico há alguns anos atrás na Comandante Luci Lupia, primeira mulher a conseguir o brevê de piloto comercial de Primeira Classe, depois dela ter enfrentado vários desafios, principalmente a intolerância masculina. Pessoa admirável.
Bjs!

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