A vida de uma pessoa pode ficar registrada em vários meios: um álbum de fotografias, um caderno de receitas ou, como no caso, uma caderneta militar.
A capa desta já se encontra em mau estado de conservação, mas as folhas de anotações estão com a escrita nítida.
Meu avô, João Glycério Coghi, nasceu em 5 de março de 1900 e faleceu em fevereiro de 1992, bastante surdo e doente, mas totalmente lúcido.
Ele costumava contar histórias pitorescas sobre sua vida e embora não tivesse seguido carreira militar gostava muito da sua passagem pelo serviço militar obrigatório. Manteve sua caderneta militar com muito orgulho.
Consta que meu avô se casou com minha avó Cecília lá pelos idos de 1921, ela com 16 anos de idade e ele com 21. Foram morar no meio do mato, próximo a uma cidade de Minas Gerais chamada Campo Místico, atualmente Campestrinho, e o recrutamento militar foi buscá-lo na roça, deixando minha avó sozinha.
Ele contava que como corria bem ganhou duas competições em Juiz de Fora nos jogos esportivos para o seu batalhão de Pouso Alegre e recebeu 1.º e 2.º lugares, mantendo suas medalhinhas na caderneta militar para provar. De fato, meu avô andava tão depressa, que mesmo já idoso, nós os seus netos não conseguíamos alcança-lo quando saia pela rua e tínhamos que correr atrás.
Ele chegou ao posto de cabo de artilharia, mas foi reprovado nos exames para sargento e, completando seu tempo de serviço, deu baixa do Exército em 31 de março de 1923.
As anotações foram feitas com letra caprichada pelo 1.º Tenente responsável pela sua bateria, infelizmente não consegui identificar o nome. Como curiosidade, reproduzo um trecho:
"Em 1922. Maio. A 9 apresentou-se ao Regimento por ter sido sorteado pelo município de Ouro Fino, com o número 1. Na mesma data foi inspecionado da saúde pela junta médica do Regimento, composta dos srs.Cap. Franklin Ferreira Braga e 1.º Tenente Dr. José Anysio Lopes Vieira, em sessão número 18, sendo julgado apto para todo o serviço do Exército."
Ainda:
"Em tempo: Nesta data, ao deixar a caserna, onde foi polido moral, intelectual e fisicamente, onde recebeu todos os ensinamentos suficientes para seguir a jornada da sua vida civil, onde a caserna lhe servirá de padrão, foi louvado pelo que fez para o desenvolvimento do Exército.
Major Mesquita - Comandante".
Folhas de Identificação
As medalhinhas do "Gri" (o pessoal não conseguia falar Glycério e meu tio o apelidou de Gri...cério)
Quando escrevo esta postagem, quero pensar também nas pessoas que acompanharam este período da vida do Gri: o 1.º Tenente Milton de Souza Daemon que mandou uma parte comunicando a vitória na corrida, o tenente que fez as anotações, os médicos militares que fizeram sua Inspeção de Saúde, o Major Mesquita de Vasconcellos, que o comandou. O que eles fizeram em suas vidas? Quanto tempo viveram? Quem são seus filhos, netos, bisnetos, trinetos...? O que lhes aconteceu na II Guerra Mundial (foram convocados?).
Penso também que após 60 anos, em 1982, eu, mulher, fui a única que seguiu a carreira militar na família (pasmem!), mesmo que na área de saúde (fazendo Inspeções de Saúde também!).
Mais um registro para o ambiente virtual.
Se conseguir fazer a cabeça de minhas filhas, elas vão manter este material ou encaminhá-lo a algum museu.
2 comentários:
Lembrei aqui da frase no filme "Gladiador", que gosto muito.
FORÇA E HONRA.
Gostei muito da narrativa, beijos.
Cybele:
também adoro futucar coisas antigas e saber das suas histórias!
Isso não tem preço!
Bjinhus,
Sandra Bylaardt
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