"Acordei um pouco mais tarde, com a preguiça me saindo pelos olhos e ouvidos, os ossos estalando por conta do colchão e a necessidade comum de cada manhã. Aos poucos, o corpo foi respondendo e eu, como boa aquariana, coloco a roupa na máquina, ao mesmo tempo em que ligo a cafeteira e lavo a louça da janta. Ligo o rádio, tomo meu café com pão de queijo descongelado e já parto para adiantar o almoço nostálgico: goulash!
A comida nos remete ao mais profundo sentimento de infância - relembrem a cena final do Ratatouille, quando o Egon prova seu prato e regride aos tempos de criança. A comida, ou melhor, o conhecimento da comida, é a coisa que não nos é retirada quando imigramos - todo imigrante leva consigo a roupa do corpo e o modo de fazer a sua comida, a única coisa que restou de sua Pátria.
Embora eu não coma carne vermelha há muitos anos, resolvi que minhas filhas deveriam escolher por si mesmas se deveriam ou não deixar de comê-la quando tiverem idade e consciência suficiente para isto. Desta maneira, de tempos em tempos, engulo meu asco e preparo alguma coisa para elas, mesmo sem experimentar (felizmente, ninguém morreu...).
Hoje foi a vez do goulash que minha avó fazia, da maneira mais caseira possível, com patinho cortado em cubos, muita cebola picada, uma boa colherada de páprica doce, sal, água e panela tapada em fogo lento por uns bons 40 minutos.
Sobe um aroma pela casa que me leva até os anos 1970, quando ela morou na rua próxima à minha casa. Não vou dizer que ela foi uma ótima avó, que foi amorosa ou mesmo que demonstrasse seus bons sentimentos por mim ou por meus irmãos, coisa que o fazia sem melindres para seus sobrinhos, que lhe eram muito mais próximos pela cultura e pela língua falada, mas a danada cozinhava bem que só ela e com isso fui pegando o gosto pela experiência culinária.
Posso dizer, sem nenhuma dúvida, que ela, minha avó paterna, assim como as outras mulheres de minha família, foram minhas primeiras professoras, na arte sutil da alquimia de cozinha.
Se hoje as minhas meninas comem arroz branco com goulash e batatas tostadas é graças ao aprendizado transmitido, mesmo que indiretamente, por todas estas que agora cozinham lá no Céu.
Às minhas primeiras professoras, à minha primeira educadora Dona Dulcineia e às outras tão maravilhosas mulheres que foram minhas mestras, meu especial Feliz Dia dos Professores, um abraço bem especial!
Às mestras de minhas filhas, que as tenho no coração, meu agradecimento profundo e reconhecimento de todo seu esforço e trabalho digno, nem sempre valorizado ou compreendido por muitos.
Felicidades, Professores!!!"
Em Tempo: O goulash é comido com uns nhoquezinhos de farinha, chamados snitzels. Faz-se um mingau com farinha, ovo, sal e água, grosso a ponto de ser colocado numa tábua de cortar e com uma faca vão se tirando pedaços, diretamente sobre uma panela de água fervente; assim que eles boiarem estão prontos e depois de escorridos são servidos com o goulash.
Um comentário:
Amei sua narrativa...achei prática sua receita de goulash.
Belas fotos...,boa noite uma ótima semana.
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